Urinálise
Interpretação do exame de Urina - Parte Física, Química e Sedimentoscopia
1.Volume: - Anúria: por obstrução de vias urinárias, desidratação intensa, nefrose esclerótica, I.R.A.
- Poliúria: Excesso de volume urinário. Urina pálida juntamente com densidade específica baixa
- Oligúria: Redução de volume urinário. Urina escura com densidade específica alta
- Volume ideal para análise: 10 ml
2.Cor: - A cor da urina é dada pelos urocromos
- Está relacionada ao volume
- Pálida: Urina diluída com baixa densidade
- Amarelo claro: Mais próxima da normalidade
- Amarelo escuro ao âmbar: Urina concentrada com alta densidade.
Podem estar presentes febre, desidratação, baixa ingestão hídrica, nefrite aguda, nefrose tóxica.
Podem estar presentes febre, desidratação, baixa ingestão hídrica, nefrite aguda, nefrose tóxica.
- Urina vermelha ao marrom: Pode ser devido a hemoglobinúria, mioglobinúria, hemorragia do trato urinário.
- Uso de medicamentos como anti-helmínticos fenotiazínicos promovem urina rósea - vermelha.
3.Odor: - Normalidade: sui generis
- Fétido: Decomposição de proteínas
- Cetônico: Cetose, toxemia de prenhez em ovelhas
- Inodoro: Diluição ou uremia
- Amoniacal: Fermentação alcalina ou ação da urease bacteriana
- Adocicado: Diabetes melito
- Alguns medicamentos alteram o odor da urina
4.pH: - 5,0 a 6,5: Normal em carnívoros. Em outros casos, pode estar presente por febre, acidose metabólica, acidose respiratória, atividade muscular prolongada, medicamentos acidificantes.
- 8,5 a 9,0: Normal em herbívoros. Em outros casos, pode estar presente por cistite, retenção urinária, absorção de transudatos, alcalose metabólica, material de colheita contendo resíduos.
- Amostras em repouso: pH aumenta pela perda de CO2, pela transformação por bactérias urease.
- Relaciona-se com a dieta
- Herbívoros lactentes podem possuir urina ácida
- Rações para carnívoros podem conter quantidade de componentes vegetais que podem alcalinizar a urina.
- Diminuição do pH (acidificação) pode ser por: febre, inanição, dieta rica em PTNS, acidose, atividade muscular excessiva, administração de algumas drogas.
- Aumentos do pH (alcalinização) pode ser por: infecção do trato urinário com bactérias urease, algumas drogas, retenção urinária, ostrução uretral ou paralisia vesical.
5.Densidade: - Cão: 1015 - 1025 - 1045
- Gato: 1020 - 1030 - 1060
- Retrata o grau de reabsorção tubular ou da concentração renal
- Aumento densidade ou Hiperestenúria (>1030 ou 1025): devido a desidratação, baixo consumo de líquidos, vômito, diarréia, febre, diabetes melito, diminuição do consumo hídrico, sudorese, ofegação excessiva, nefropatia aguda, choque.
- Diminuição densidade ou Hipostenúria (< 1007): devido ao fato dos rins não conseguirem reabsorver água. Ocorre em casos de piometra, diabetes insipido, polidipsia psicogênia, algumas hepatopatias, algumas nefropatias, diureticoterapia.
- Isostenúria (1008 - 1012)
6.Turbidez: - Cilindros, células inflamatórias, cristais: Quando presentes, promovem maior grau de turvação.
7. Proteínas: - Em condições normais, a quantidade de proteínas na urina deverá ser indetectável
- A tira reagente indica principalmente a presença de albumina
- A magnitude da proteinúria está mais ligada à natureza da lesão renal do que com o estágio da doença
- Urina muito diluída: Falso negativo pois a concentração de proteínas pode ficar abaixo da sensibilidade do teste
- Proteinúria pré renal por: Doença primária não renal - hemoglobinúria / mioglobinúria
- Proteinúria renal por: Aumento na permeabilidade capilar, doença tubular com perda funcional (nefrose, cistos renais, glomerulonefrite, nefrite, pielonefrite, neoplasias, hopoplasia), sangue ou exsudato inflamatório renal presentes.
- Proteinúria pós renal por: Infecções do trato urinário inferior (pielite, ureterite, cistite, uretrite, vaginite, postite), hematúria pós renal, obstrução por cálculo, sêmen na urina
- Proteinúria transitória: Quando houver esforço muscular excessivo, estresse, convulsões
8.Glicose: - Normal quando ausente
- Pode estar associada a Diabetes melito, hiperadrenocorticismo, tratamento com glicose e frutose, pancreatite necrótica aguda, alimentação rica em açúcares, administração de adrenalina via parenteral.
- Medo, estresse, excitação; promovem aumento da glicose, excedendo o limiar renal
- Glicosúria renal: decorre da redução da reabsoração da glicose nos túbulos renais
- Falso positivo: uso de ácido ascórbico, vitamina C, morfina, salicilatos, cefalosporinas e penicilina
- Fita reagente x Comprimido reagente: O comprimido detecta açúcares além da glicose
- Nefropatias tóxicas por metais pesados, antibióticos aminoglicosídeos = aumentam glicose
- No diabetes melito, aumenta a produção de ácido ascórbico, podendo gerar falso negativo
9.Nitrito: - Presença de nitritos sugere bacteriúria, porém, ausência de nitrito no teste não descarta presença de bactérias
- A urina tem de ser retida por certo tempo na bexiga para que as bactérias urease possam agir, por essa razão, animais com infecção urinária poderão apresentar falso negativo, já que a urina não permanecerá armazenada tempo suficiente
- Muitas bactérias não convertem nitrato em nitrito
10.Cetonas: - Quando o metabolismo de ácidos graxos não é acompanhado por metabolismo de carboidratos suficiente, o excesso de cetonas extravasa para a urina, no que é chamado cetonúria
- Aparecem em casos de cetonemia ou cetose em vacas no início da lactação, caso a alimentação do animal não seja suficiente para a produção de leite. Podem aparecer também em ovelhas, no caso de toxemia de prenhez
- Comum em animais com diabetes melito, pois a gordura será desdobrada para cumprir as exigências energéticas e o excesso de cetonas é excretado na urina
11.Pigmentos Biliares: - Na urina: Bilirrubina conjugada, pois a não conjugada não atravessa o glomérulo para o filtrado renal, pois está conjugado com a albumina que não é hidrossolúvel
- Cães e bovinos podem apresentar quantidades mínimas na urina
- Aparecem em doenças como obstrução de fluxo biliar desde o fígado até o intestino delgado e em hepatopatias
- Urina a ser testada não deverá ser exposta a luz, pois a bilirrubina será degradada
12.Leucócitos: - Normalidade: 1 a 3 por campo de grande aumento
- Cultivar amostra para pesquisa bacteriológica em caso de números elevado de leucócitos
- Leucocitúria por inflamações renais (nefrite, glomerulonefrite, pielonefrite), inflamações no trato urinário inferior e inflamações do trato genital
13.Sangue: - Hematúria: - Eritrócitos intactos (1 a 3 CGA)
- Sangramento em algum lugar no sistema urogenital
- Amostra de coloração vermelha, marrom, vinho turva
- Afecções sistêmicas
- Amostras evacuadas de fêmeas em proestro ou estro, após o parto, podem ficar contaminadas com eritrócitos
- Hemoglobinúria: - Hemoglobina livre
- Devido a hemólise intravascular
- Urina vermelha mesmo após centrifugação
- Urina diluída ou muito alcalina: lise de eritrócitos - hematúria
- Por: anemia hemolítica imunomediada, doença hemolítica isoimune dos neonatos, transfusões sanguíneas incompatível, leptospirose, babesiose, alguns metais pesados, plantas venenosas, hipofosfatemia, hemoglobinemia pós parturiente em bovinos
- Mioglobinúria: - Danos musculares graves fazem com que a mioglobina vaze a partir das células musculares
- Urina marrom escura/preta
14.Filamentos de Muco: - Comum na urina Equina
- Em outras espécies, indica irritação uretral ou contaminação da amostra com secreções genitais
15.Gotículas de Gordura: - Lipúria
- Obesidade, Diabetes Melito, Hipotireoidismo, Refeição rica em gorduras, Normal em gatos
16.Parasitos: - Cuidado com contaminação fecal
- Capillaria plica, Dioctophyma renale, Stephanurus dentatus, microfilárias
17.Bactérias: - Interferência de acordo com método de colheita (a urina normal é livre de bactérias)
- Tempo prolongado de exposição de amostra antes da análise pode gerar aumento na população bacteriana
- Quantidade aumentada (cistite, pielonefrite, prostatite, metrite, vaginite, balanite)
- Observar se há também fungos e protozoários
18.Células Epiteliais de Descamação: - Escamosas: - Origem: Uretra distal, vagina, vulva, prepúcio
- Normalmente sua presença não é significativa quando a colheita não for feita por cistocentese
- Transicionais: - Origem: Bexiga, ureteres, pelve renal, uretra proximal
- Cistite, pielonefrite, cateterização
- Renais: - Origem: túbulos renais
- Doenças do parênquima renal
- Renais: Degeneração tubular aguda, intoxicação renal, isquemia renal, inflamação
- Pelve: Pielite, pielonefrite
- Vesicais: Cistite, cateterização agressiva
- Uretrais: Uretrite, cateterização agressiva
- Normalidade: até 5 CGA
Células epiteliais escamosas Fonte : www.ufrgs.br |
19.Cilindros: - São formados no lúmen dos túbulos renais distais e coletores onde a concentração e acidez da urina são maiores
- Se dissolvem em pH alcalino, logo, dificilmente serão observados em urina de herbívoros
- Número elevado de cilindros indica lesão nos túbulos renais, mas não indica a gravidade da doença
- São sempre anormais, independente da quantidade
- Hialinos: - Mucoproteínas + Proteínas
- Encontrados quando houver exercício intenso, febre, má perfusão renal, anestesia geral
- Representam a forma mais leve de irritação renal
- Leucocitários: - Muco + Proteínas
- Inflamação renal, pielonefrite, abcesso renal
- Eritrocitários/Hemáticos: - Muco + Hemácias
- Hemorragia glomerular e tubular, glomerulonefrite aguda, nefropatia crônica em fase evolutiva
- Tubulares: - Degeneração dos túbulos renais
* Epiteliais: - Nefrite aguda, afecções que causam degeneração do epitélio tubular renal
- Muco + restos celulares
* Granulosos: - Muco + outras estruturas
- Cilindros hialinos mais antigos
- Fase final de degeneração tubular, lesão tubular crônica, necrose de células tubulares
* Gordurosos: - Último estágio da degeneração
Cilindro Granuloso Fonte: www.med.ufro.cl |
Cilindro Hialino Fonte: www.ufrgs.com.br |
20.Cristais: - Cristalúria
- Alguns se formam por secreção natural de substâncias na urina, outros se formam como decorrência de doenças metabólicas
- O tipo de cristal depende do pH, concentração e temperatura da urina e da solubilidade dos elementos
- Tipo predominante em cães e gatos: Fosfato amoniomagnesiano
- Tipo predominante em bovinos e equinos: Carbonato de cálcio e diidrato de oxalato de cálcio
- Bilirrubina: Indicam alto teor de bilirrubina conjugada = hepatopatia + colestase
- Fosfato triplo ou Estruvita: Urina alcalina ou ligeiramente ácida
- Fosfato amorfo: Urina alcalina
- Carbonato de cálcio: Normal em urina equina
- Uratos amorfos: Urina ácida
- Biureto de amônia: Mais comum em animais com hepatopatias graves
- Cistina: Disfunção tubular renal ou urolitíase por cistina
- Leucina e Tirosina: Hepatopatias mais avançadas
- Sulfonamida: Animais tratados com sulfonamidas - Deve-se fazer manutenção da urina alcalina e estimular o animal a beber água.
- Oxalato de cálcio: - Urina ácida ou neutra
- Urina de animais envenenados com etilenoglicol
- Grande número de cristais = predisposição à urolitíase por oxalato
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Oxalato de Cálcio Fonte: biomedicinapadrao.com.br |
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Cristal de Billirubina Fonte:biomedicinapadrao.com.br |
Cristais de ácido úrico Fonte: petcare.com.br |
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Cristais de Biurato de amônia Fonte :biomedicinapadrao.com.br |
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Cristal de Fosfato Triplo de Magnésio Fonte: biomedicinapadrao.com.br |
VALORES DE REFERÊNCIA
|
CANINOS | FELINOS | |
Cilindros /campo de (100x) | ||
Hialinos
| 0 a 2 | 0 a 2 |
Granulosos
| 0 a 1 | 0 a 1 |
Celulares
| 0 | 0 |
Céreos
| 0 | 0 |
Leucócitos /campo (400x) | ||
Micção natural
| < 10 | < 10 |
Cateterização
| < 5 | < 5 |
Cistocentese
| < 3 | < 3 |
Eritrócitos /campo de (400x) | ||
Micção natural
| < 10 | < 10 |
Cateterização
| < 5 | < 5 |
Cistocentese
| < 3 | < 3 |
Células epiteliais | ||
Tipo
| Escamosa de transição | Escamosa de transição |
Agrupadas
| Não | Não |
Tamanho
| Variável | Variável |
Cristais | ||
Tipo
| Variável | Variável |
Número (0, 1+, 2+, 3+)
| Variável | Variável |
Bactérias | ||
Tipo (cocos, bastonetes)
| Nenhum | Nenhum |
Número (0, 1+, 2+, 3+)
| Nenhum | Nenhum |
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FOTOS: Urinálise - Sedimentoscopia.
Fonte: Arquivo Pessoal, 2011.
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REFERÊNCIAS
_____________________. Bases para Avaliação Renal.
_____________________. Função Renal.
Urianálise. Disponível em <http://www6.ufrgs.br/favet/lacvet/sedimento.htm>.
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Interpretação do exame de urina rotina parte III. Disponível em <http://www.tecsa.com.br/media/File/pdfs/DICAS%20DA%20SEMANA/PET/PET%20Interpretao%20do%20exame%20de%20Urina%20Rotina%20II.pdf>.
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REGAZOLI, Érika. Estudo Retrospectivo da Urolitíase em Cães atendidos no Hospital Veterinário - UEL entre 2007 e 2009. 2010. 67 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Medicina Veterinária – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010 . Disponível em <http://xa.yimg.com/kq/groups/20300864/1602714315/name/tcc+final+erika.pdf>.
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