quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Urinálise


Urinálise









Interpretação do exame de Urina - Parte Física, Química e Sedimentoscopia



1.Volume: - Anúria: por obstrução de vias urinárias, desidratação intensa, nefrose esclerótica, I.R.A.
                
 - Poliúria: Excesso de volume urinário. Urina pálida juntamente com densidade específica baixa

                 - Oligúria: Redução de volume urinário. Urina escura com densidade específica alta     

                 - Volume ideal para análise: 10 ml


2.Cor: - A cor da urina é dada pelos urocromos
           - Está relacionada ao volume
           - Pálida: Urina diluída com baixa densidade
           - Amarelo claro: Mais próxima da normalidade
           - Amarelo escuro ao âmbar: Urina concentrada com alta densidade. 
Podem estar presentes febre, desidratação, baixa ingestão hídrica, nefrite aguda, nefrose tóxica.
           - Urina vermelha ao marrom: Pode ser devido a hemoglobinúria, mioglobinúria, hemorragia do trato urinário.
           - Uso de medicamentos como anti-helmínticos fenotiazínicos promovem urina rósea - vermelha.


3.Odor: - Normalidade: sui generis
             - Fétido: Decomposição de proteínas
             - Cetônico: Cetose, toxemia de prenhez em ovelhas
             - Inodoro: Diluição ou uremia
             - Amoniacal: Fermentação alcalina ou ação da urease bacteriana
             - Adocicado: Diabetes melito
             - Alguns medicamentos alteram o odor da urina


4.pH: - 5,0 a 6,5: Normal em carnívoros. Em outros casos, pode estar presente por febre, acidose metabólica, acidose respiratória, atividade muscular prolongada, medicamentos acidificantes.
         - 8,5 a 9,0: Normal em herbívoros. Em outros casos, pode estar presente por cistite, retenção urinária, absorção de transudatos, alcalose metabólica, material de colheita contendo resíduos.
         - Amostras em repouso: pH aumenta pela perda de CO2, pela transformação por bactérias urease.
         - Relaciona-se com a dieta
         - Herbívoros lactentes podem possuir urina ácida
         - Rações para carnívoros podem conter quantidade de componentes vegetais que podem alcalinizar a urina.
         - Diminuição do pH (acidificação) pode ser por: febre, inanição, dieta rica em PTNS, acidose, atividade muscular excessiva, administração de algumas drogas.
         - Aumentos do pH (alcalinização) pode ser por: infecção do trato urinário com bactérias urease, algumas drogas, retenção urinária, ostrução uretral ou paralisia vesical.     


5.Densidade: - Cão: 1015 - 1025 - 1045
                      - Gato: 1020 - 1030 - 1060
                      - Retrata o grau de reabsorção tubular ou da concentração renal
                      - Aumento densidade ou Hiperestenúria (>1030 ou 1025): devido a desidratação, baixo consumo de líquidos, vômito, diarréia, febre, diabetes melito, diminuição do consumo hídrico, sudorese, ofegação excessiva, nefropatia aguda, choque.
                      - Diminuição densidade ou Hipostenúria (< 1007): devido ao fato dos rins não conseguirem reabsorver água. Ocorre em casos de piometra, diabetes insipido, polidipsia psicogênia, algumas hepatopatias, algumas nefropatias, diureticoterapia.
                      - Isostenúria (1008 - 1012)


6.Turbidez: - Cilindros, células inflamatórias, cristais: Quando presentes, promovem maior grau de turvação.


7. Proteínas: - Em condições normais, a quantidade de proteínas na urina deverá ser indetectável
                      - A tira reagente indica principalmente a presença de albumina
                      
- A magnitude da proteinúria está mais ligada à natureza da lesão renal do que com o estágio da doença
                     
 - Urina muito diluída: Falso negativo pois a concentração de proteínas pode ficar abaixo da sensibilidade do teste
                      
Proteinúria pré renal por: Doença primária não renal - hemoglobinúria / mioglobinúria
                     
 - Proteinúria renal por: Aumento na permeabilidade capilar, doença tubular com perda funcional (nefrose, cistos renais, glomerulonefrite, nefrite, pielonefrite, neoplasias, hopoplasia), sangue ou exsudato inflamatório renal presentes.
                      
Proteinúria pós renal por: Infecções do trato urinário inferior (pielite, ureterite, cistite, uretrite, vaginite, postite), hematúria pós renal, obstrução por cálculo, sêmen na urina
                     
 - Proteinúria transitória: Quando houver esforço muscular excessivo, estresse, convulsões


8.Glicose:  - Normal quando ausente
                 
 - Pode estar associada a Diabetes melito, hiperadrenocorticismo, tratamento com glicose e frutose, pancreatite necrótica aguda, alimentação rica em açúcares, administração de adrenalina via parenteral.
                  - Medo, estresse, excitação; promovem aumento da glicose, excedendo o limiar renal
                  - Glicosúria renal: decorre da redução da reabsoração da glicose nos túbulos renais
                 
 - Falso positivo: uso de ácido ascórbico, vitamina C, morfina, salicilatos, cefalosporinas e penicilina
                
  - Fita reagente x Comprimido reagente: O comprimido detecta açúcares além da glicose
                 
 - Nefropatias tóxicas por metais pesados, antibióticos aminoglicosídeos = aumentam glicose
                  - No diabetes melito, aumenta a produção de ácido ascórbico, podendo gerar falso negativo


9.Nitrito: - Presença de nitritos sugere bacteriúria, porém, ausência de nitrito no teste não descarta presença de bactérias
               - A urina tem de ser retida por certo tempo na bexiga para que as bactérias urease possam agir, por essa razão, animais com infecção urinária poderão apresentar falso negativo, já que a urina não permanecerá armazenada tempo suficiente
               - Muitas bactérias não convertem nitrato em nitrito


10.Cetonas: - Quando o metabolismo de ácidos graxos não é acompanhado por metabolismo de carboidratos suficiente, o excesso de cetonas extravasa para a urina, no que é chamado cetonúria
                    - Aparecem em casos de cetonemia ou cetose em vacas no início da lactação, caso a alimentação do animal não seja suficiente para a produção de leite. Podem aparecer também em ovelhas, no caso de toxemia de prenhez
                    - Comum em animais com diabetes melito, pois a gordura será desdobrada para cumprir as exigências energéticas e o excesso de cetonas é excretado na urina
                    - Pode ocorrer também em casos de jejum, inanição, anorexia, comprometimento hepático (em especial quando o fígado não consegue armazenar quantidades adequadas de glicogênio)




11.Pigmentos Biliares: - Na urina: Bilirrubina conjugada, pois a não conjugada não atravessa o glomérulo para o filtrado renal, pois está conjugado com a albumina que não é hidrossolúvel
                                      - Cães e bovinos podem apresentar quantidades mínimas na urina
                                      - Aparecem em doenças como obstrução de fluxo biliar desde o fígado até o intestino delgado e em hepatopatias
                                      - Urina a ser testada não deverá ser exposta a luz, pois a bilirrubina será degradada


12.Leucócitos: - Normalidade: 1 a 3 por campo de grande aumento
                         - Cultivar amostra para pesquisa bacteriológica em caso de números elevado de leucócitos
                         - Leucocitúria por inflamações renais (nefrite, glomerulonefrite, pielonefrite), inflamações no trato urinário inferior e inflamações do trato genital


13.Sangue: - Hematúria: - Eritrócitos intactos (1 a 3 CGA)
                                       - Sangramento em algum lugar no sistema urogenital
                                       - Amostra de coloração vermelha, marrom, vinho turva
                                       - Afecções sistêmicas
                                      
 - Amostras evacuadas de fêmeas em proestro ou estro, após o parto, podem ficar contaminadas com eritrócitos
                  - Hemoglobinúria: - Hemoglobina livre
                                              - Devido a hemólise intravascular
                                              - Urina vermelha mesmo após centrifugação
                                              - Urina diluída ou muito alcalina: lise de eritrócitos - hematúria
                                             
 - Por: anemia hemolítica imunomediada, doença hemolítica isoimune dos neonatos, transfusões sanguíneas incompatível, leptospirose, babesiose, alguns metais pesados, plantas venenosas, hipofosfatemia, hemoglobinemia pós parturiente em bovinos

                 
 - Mioglobinúria: - Danos musculares graves fazem com que a mioglobina vaze a partir das células musculares
                                           - Urina marrom escura/preta



14.Filamentos de Muco: - Comum na urina Equina
                                      
   - Em outras espécies, indica irritação uretral ou contaminação da amostra com secreções genitais


15.Gotículas de Gordura: - Lipúria
                                      
 - Obesidade, Diabetes Melito, Hipotireoidismo, Refeição rica em gorduras, Normal em gatos


16.Parasitos: - Cuidado com contaminação fecal
                     - Capillaria plicaDioctophyma renaleStephanurus dentatus, microfilárias


17.Bactérias: - Interferência de acordo com método de colheita (a urina normal é livre de bactérias)
                     - Tempo prolongado de exposição de amostra antes da análise pode gerar aumento na população bacteriana
                     - Quantidade aumentada (cistite, pielonefrite, prostatite, metrite, vaginite, balanite)
                     - Observar se há também fungos e protozoários


18.Células Epiteliais de Descamação: - Escamosas: - Origem: Uretra distal, vagina, vulva, prepúcio
                                                                                    
 - Normalmente sua presença não é significativa quando a colheita não for feita por cistocentese
                                                              
  - Transicionais: - Origem: Bexiga, ureteres, pelve renal, uretra proximal
                                                                                       
 - Cistite, pielonefrite, cateterização
                                                                
 - Renais: - Origem: túbulos renais
                                                                              
 - Doenças do parênquima renal
                                                              
   - Renais: Degeneração tubular aguda, intoxicação renal,                                                                         isquemia renal, inflamação
                                                                
 - Pelve: Pielite, pielonefrite
                                                                
 - Vesicais: Cistite, cateterização agressiva
                                                               
  - Uretrais: Uretrite, cateterização agressiva
                                                                
 - Normalidade: até 5 CGA


Células epiteliais escamosas
Fonte : www.ufrgs.br

19.Cilindros: - São formados no lúmen dos túbulos renais distais e coletores onde a concentração e acidez da urina são maiores

                    - Se dissolvem em pH alcalino, logo, dificilmente serão observados em urina de herbívoros

                    - Número elevado de cilindros indica lesão nos túbulos renais, mas não indica a gravidade da doença

                    - São sempre anormais, independente da quantidade

                    - Hialinos: - Mucoproteínas + Proteínas

                                    - Encontrados quando houver exercício intenso, febre, má perfusão renal, anestesia geral
                                    - Representam a forma mais leve de irritação renal
                    - Leucocitários: - Muco + Proteínas
                                             - Inflamação renal, pielonefrite, abcesso renal
                    - Eritrocitários/Hemáticos: - Muco + Hemácias
                                                             - Hemorragia glomerular e tubular, glomerulonefrite aguda, nefropatia crônica em fase evolutiva
                    - Tubulares: - Degeneração dos túbulos renais
                    * Epiteliais: - Nefrite aguda, afecções que causam degeneração do epitélio tubular renal
                                      - Muco + restos celulares
                    * Granulosos: - Muco + outras estruturas
                                          - Cilindros hialinos mais antigos
                                          - Fase final de degeneração tubular, lesão tubular crônica, necrose de células tubulares
                    * Gordurosos: - Último estágio da degeneração                                     



Cilindro Granuloso
Fonte: www.med.ufro.cl
Cilindro Hialino
Fonte: www.ufrgs.com.br







20.Cristais: - Cristalúria

                    - Alguns se formam por secreção natural de substâncias na urina, outros se formam como decorrência de doenças metabólicas

                    - O tipo de cristal depende do pH, concentração e temperatura da urina e da solubilidade dos elementos
                    - Tipo predominante em cães e gatos: Fosfato amoniomagnesiano
                    - Tipo predominante em bovinos e equinos: Carbonato de cálcio e diidrato de oxalato de cálcio
                    - Bilirrubina: Indicam alto teor de bilirrubina conjugada = hepatopatia + colestase
                    - Fosfato triplo ou Estruvita: Urina alcalina ou ligeiramente ácida
                    - Fosfato amorfo: Urina alcalina
                    - Carbonato de cálcio: Normal em urina equina
                    - Uratos amorfos: Urina ácida
                    - Biureto de amônia: Mais comum em animais com hepatopatias graves
                    - Cistina: Disfunção tubular renal ou urolitíase por cistina
                    - Leucina e Tirosina: Hepatopatias mais avançadas
                    - Sulfonamida: Animais tratados com sulfonamidas - Deve-se fazer manutenção da urina alcalina e estimular o animal a beber água.
                    - Oxalato de cálcio: - Urina ácida ou neutra
                                                   - Urina de animais envenenados com etilenoglicol
                                                   - Grande número de cristais = predisposição à urolitíase por oxalato                         
          

Oxalato de Cálcio
Fonte: biomedicinapadrao.com.br
Cristal de Billirubina
Fonte:biomedicinapadrao.com.br
Cristais de ácido úrico
Fonte: petcare.com.br
Cristais de Biurato de amônia
Fonte :biomedicinapadrao.com.br

Cristal de Fosfato Triplo de Magnésio
Fonte: biomedicinapadrao.com.br

                                                  


VALORES DE REFERÊNCIA









CANINOSFELINOS
Cilindros /campo de (100x) 
Hialinos
0 a 20 a 2
Granulosos
0 a 10 a 1
Celulares
00
Céreos
00
Leucócitos /campo (400x)
Micção natural
< 10< 10
Cateterização
< 5< 5
Cistocentese
< 3< 3
Eritrócitos /campo de (400x)
Micção natural
< 10< 10
Cateterização
< 5< 5
Cistocentese
< 3< 3
Células epiteliais 
Tipo
Escamosa de transiçãoEscamosa de transição
Agrupadas
NãoNão
Tamanho
VariávelVariável
Cristais 
Tipo
VariávelVariável
Número (0, 1+, 2+, 3+)
VariávelVariável
Bactérias 
Tipo (cocos, bastonetes)
NenhumNenhum
Número (0, 1+, 2+, 3+)
NenhumNenhum



                    Fonte: http://www6.ufrgs.br/favet/lacvet/sedimento.htm



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FOTOS: Urinálise - Sedimentoscopia.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2011.



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REFERÊNCIAS


_____________________. Bases para Avaliação Renal.


_____________________. Função Renal.





 Urianálise. Disponível em <http://www6.ufrgs.br/favet/lacvet/sedimento.htm>.


FERREIRA, R. N.; Manejo de cães com urolitíase. 2007. 32 f. Trabalho de conclusão de curso (obtenção de título de especialista) – Universidade Castelo Branco. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em <http://www.qualittas.com.br/documentos/Manejo%20de%20Caes%20com%20Urolitiase%20-%20Roberta%20do%20Nascimento%20Ferreira.PDF>.


HENDRIX, C. H.  Procedimentos Laboratoriais para Técnicos Veterinários. São Paulo: Roca, 2006.








LIMA et al. Análise dos parâmetros bioquímicos e urinários de cães com suspeita de afecção do sistema urinárioRevista Ciência Animal, 15(1):43-47, 2005. Disponível em < http://www.uece.br/cienciaanimal/dmdocuments/Comunicacao1.2005.1.pdf >.


OLIVEIRA, A. C. S. Urolitíase Canina29 f. Trabalho de conclusão de curso (obtenção de título de especialista) – Universidade Castelo Branco. Brasília, 2010. Disponível em <http://www.qualittas.com.br/documentos/Urolitiase%20-%20Ana%20Carolina%20Silva%20Oliveira.pdf>.


OYAFUSO, Mônica Kanashiro et al. Urolitíase em cães: avaliação quantitativa da composição mineral de 156 urólitos. Cienc. Rural [online]. 2010, vol.40, n.1, pp. 102-108. ISSN 0103-8478.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782010000100017. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84782010000100017>.


 REGAZOLI, Érika. Estudo Retrospectivo da Urolitíase em Cães atendidos no Hospital Veterinário - UEL entre 2007 e 2009. 2010. 67 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Medicina Veterinária – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010 . Disponível em <http://xa.yimg.com/kq/groups/20300864/1602714315/name/tcc+final+erika.pdf>.


THRALL. M.A, et al. Hematologia e Bioquímica ClínicaVeterinária. 1 Ed. São Paulo: Roca, 2007.


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